domingo, 13 de março de 2022

 

TRAVA CARREIRA 3: Não saber dar e receber feedback





Eu poderia escrever um livro inteiro sobre feedback e com certeza não seria possível cobrir tudo. Saber receber e dar é absolutamente essencial para todo profissional e ainda mais crítico se você está em uma posição de liderança. Muita gente treme com o simples pensamento de ter que dar feedback para alguém e range os dentes de raiva quanto tem que receber um. É algo bem desafiador de se fazer, principalmente no início, mas não dá para deixar de aprender.

Feedbacks são essenciais em qualquer ambiente corporativo, eles nos fazem enxergar pontos cegos, mapear áreas que precisamos melhorar e entender como os profissionais que estão ao nosso redor vêem o nosso trabalho. É puro crescimento. Por isso, temos que praticar bem essa habilidade e buscar ter maestria em dar e receber feedback.

Recebendo feedback

“Ela viajou, não concordo em nada com esse feedback. Eu nunca fiz isso”.

Escutei a frase acima quando um colega me falou sobre o feedback que recebeu de uma pessoa de outro time que compartilha o gerenciamento de um projeto com ele. Há algo que aprendi cedo em minha carreira e acredito firmemente: não existe feedback errado. Feedback é a percepção que alguém tem de você, e se determinada percepção existe sempre há algo que podemos fazer, mesmo que a gente não concorde com o que recebeu.

Quando receber um feedback, a primeira coisa a fazer é agradecer imensamente pela pessoa ter tido a coragem de te dar um presente desses. A maioria dos profissionais que você irá cruzar em toda sua carreira não fará isso. Claro que você pode pedir exemplos, para falar um pouco mais sobre o que aconteceu etc, mas não reaja negativamente, não rebata e não faça cara feia. Se fizer isso, a probabilidade de receber outro feedback da mesma pessoa irá cair drasticamente.

Depois de escutar o restante do desabafo, fiz um desafio para o meu colega: imagine, mesmo que você discorde totalmente, que você pudesse fazer algo para melhorar o ponto que ela trouxe. O que você poderia fazer? Um pouco desconfiado, ele refletiu e me disse 2 ou 3 coisas que poderia fazer para melhorar o relacionamento e a comunicação entre eles.

Será que o feedback estava totalmente errado mesmo? Talvez sim, mas sempre podemos fazer algo para melhorar qualquer situação. Eu falo que mudar ou adaptar algo por ter recebido um feedback, mesmo que a gente não concorde com ele, é o nível mais avançado de aceitá-lo, e incrivelmente poderoso para o nosso avatar profissional.

Eu sempre falo que feedback mesmo quando é ruim, é bom. O motivo? Quando alguém se dispõe a dá-lo, temos de agradecer e incentivar. Não se joga um presente fora.

Dando feedback

Por que as pessoas têm tanto medo de dar feedback? São muitos os motivos, elas não se sentem aptas por não terem sido treinadas, a cultura corporativa não incentiva a prática, não sabem como fazer, por onde começar e não querem correr o risco de ofender alguém. Esse último, o medo de ofender, é o mais comum.

Esses receios acabam fazendo com que muitas pessoas nunca recebam um feedbackzinho sequer no ambiente de trabalho, sendo surpreendidos com fofocas a seu respeito, avaliações baixas e, em casos mais extremos, até demissões. Isso é muito injusto com profissionais que precisam, se alguém não sabe onde precisa melhorar não terá a oportunidade de se desenvolver.

Você precisará de uma certa dose de coragem e de sair do lugar quentinho onde não se dá feedback para começar a praticar. Vai ser desafiador no começo? Vai, mas é necessário. Alguém vai se sentir ofendido? Vai, mas é para o seu próprio bem. Agora parte boa: há muita técnica e boas práticas que podem ser utilizadas para tornar o processo mais suave. Eu mapeei 7 passos para dar feedback com eficiência que pode ser um bom guia para quem quer começar ou mesmo aprimorar a forma como dá feedback, vamos a eles.

7 passos passos para dar um feedback poderoso:

1. Escolha um local adequado: sempre que vamos dar feedback para alguém, devemos fazer isso em um local isolado em que só estarão vocês dois. Parece besteira, mas, além de ser desconfortável ter essa conversa com mais pessoas ao redor, cada um reage de forma diferente. Uma vez, quando eu era um coordenador júnior, fui dar um feedback bem suave para um profissional e, por falta de sala, resolvi fazer no café da empresa. Quando ainda estava na metade, a pessoa começou a chorar. Logo várias pessoas vieram ao nosso encontro para perguntar o que estava acontecendo. Imagine a cena? Aprendi a lição.

2. Pergunte como a pessoa acha que está desempenhando no ponto que irá dar feedback: seja um projeto, um comportamento ou o desempenho da pessoa no ciclo, comece perguntando como a pessoa acha que está. Perguntas do tipo “como vai o andamento do projeto X” ou “qual é sua avaliação do seu semestre” são boas maneiras de entender como o profissional se enxerga. Escute atentamente, as informações que aparecerem aqui podem ajudar imensamente nos pontos 3 e 4.
O conteúdo deste artigo é parte do livro Seja Egoísta com sua Carreira, conheça aqui.

3. Comece com os pontos positivos: eu gosto de começar destacando os pontos positivos e fortes da pessoa. Todos nós, sem exceção, temos pontos a melhorar e pontos que mandamos muito bem. Começar logo com as áreas de melhoria pode ser um pouco desmotivador para alguns profissionais. Começar pelo o que está funcionando é uma ótima oportunidade de reconhecer o que é positivo na pessoa para depois entrar nos ajustes que precisam ser feitos.

4. Dê o feedback e exemplos: agora é hora de entrar no que precisa ser trabalhado. Eu sempre aconselho as pessoas a evitarem rodeios e irem direto ao ponto. Tem que trabalhar o comportamento? Diga: “há uma questão de comportamento que precisa ser trabalhada”. O projeto está atrasado? Diga: “o projeto está atrasado”. Direto ao ponto. Agora, o pulo do gato: SEMPRE exemplifique seus feedbacks. Usando os mesmos exemplos acima, na questão de comportamento: “você não tem contribuído muito nas reuniões, nas últimas três que participou não comentou nenhum dos pontos discutidos” ou “concordamos que o projeto seria entregue na data tal, já se passaram X dias e ele ainda não está pronto”. Feedback sem exemplo é igual pastel de vento: não tem conteúdo nenhum.

5. Escute: depois que o feedback for entregue, é hora de escutar. Pergunte se a pessoa entendeu o que você quis passar e se tem alguma dúvida sobre o que conversaram. Sinta o momento, algumas pessoas preferem digerir tudo que foi dito e outras já entrar nos pontos para entender mais. Não tem certo e errado.

6. Não terceirize: uma das piores coisas que se pode fazer em uma sessão de feedback é usar terceiros para validar seus pontos. “O fulano disse que você é agressivo”, “o ciclano acha que você não está colaborando”, “o diretor acha que você…” e por aí vai. Isso desqualifica o feedback e joga a responsabilidade no terceiro. Seja dono e responsável pela conversa.

7. Coloque-se à disposição de um papo adicional: acabada a sessão, coloque-se à disposição para ter uma conversa adicional sobre o que acabaram de discutir. Como eu já falei, algumas pessoas precisam de tempo para digerir o que foi conversado para então estarem prontas para uma conversa adicional e outras vão querer ir mais a fundo depois de alguma reflexão. Acomode essas necessidades.



by Luciano Santos - Dir. de Vendas, Autor do Livro Seja Egoísta com sua Carreira

Status: disponível

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