quinta-feira, 29 de julho de 2021

 

O QUE DEVE CONTER EM UM CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS?


Percebemos o quanto é desafiador para as pessoas que trabalham no terceiro setor fazer um contrato de prestação de serviços. Esse documento é muito importante na relação entre o profissional e o cliente, já que tem vários detalhes e informações que regulam as atividades e evitam uma série de transtornos. 

Focamos todos os nossos esforços para te ajudar a entender sobre o contrato de prestação de serviços, reunindo as informações mais relevantes para que você elabore documentos funcionais e tenha segurança em seu trabalho.

Quer saber por onde começar? Venha com a gente e aprenda mais sobre o tema!

O que é um contrato de prestação de serviços e qual sua importância?

O contrato de prestação de serviços é um documento que formaliza o acordo entre um profissional ou empresa (conhecido como contratado) e um cliente (chamado de contratante). O contratado faz um trabalho isolado em troca de uma retribuição, o que significa que não há vínculo de emprego entre as partes. 

Esse documento é essencial por diversos motivos. Ele protege o cliente e o prestador de serviços porque marca um compromisso entre as partes. De acordo com o artigo 594 do Código Civil (lei 10.406/02), o contrato de prestação de serviços tem validade jurídica. 

Assim, se o contratante ou o contratado não cumprir com o acordo, a outra parte pode buscar o apoio da Justiça para conseguir reparação. Acha que assim está mais claro? O registro marca os direitos e deveres de cada um e também as medidas tomadas em caso de não cumprimento de alguma norma predefinida.

O contrato também ajuda a ter mais segurança porque marca os limites em que o projeto foi planejado. Dessa forma, você pode ver se a atividade caminhou como o esperado e avaliar a qualidade do serviço.

Lei 9.610/98 também marca importantes direitos dos prestadores de serviços ao regulamentar os direitos autorais. Ela protege os profissionais que fazem obras intelectuais, como livros, músicas, fotografias, desenhos, poesias e imagens.

Quais itens devem constar em um contrato de prestação de serviços?

Vamos mostrar, a seguir, quais itens não podem faltar no contrato de prestação de serviços. Venha aprender mais com a gente!

Identificação das partes

Nesse item, você vai descrever as informações da contratante e da contratada. É preciso especificar nome completo, CPF, profissão, estado civil, RG, nacionalidade e endereço. A parte que presta o serviço deve ter a indicação da qualificação. Caso ela seja pessoa jurídica, você deve colocar o CNPJ da empresa e os dados do representante da corporação.

Objeto do contrato

O objeto do contrato é o próprio serviço a ser feito. Você deve detalhar o processo, mostrando as etapas e os recursos aplicados em cada fase. Recomendamos indicar, ainda, a estrutura necessária para o cumprimento do trabalho. Quanto mais detalhes, mais fácil será o alinhamento de expectativas.

Obrigações do contratado

Nessa parte do contrato, você deve apontar quais são os deveres do prestador de serviço para que ele faça uma entrega de qualidade. É importante detalhar como os resultados vão ser entregues e o período para isso, os efeitos finais e as condições caso o cliente queira solicitar um ajuste ou alteração.

Obrigações do contratante

O contratante também deve cumprir com sua parte no contrato. O pagamento em dia, da forma acordada, é essencial. Além disso, é preciso que ele forneça as informações necessárias para o profissional fazer o trabalho. Destacamos que, em alguns casos, o contratado precisa de uma estrutura para prestar o serviço e é papel do cliente fornecê-la.

Preço e condições de pagamento

O preço e as condições de pagamento não podem ser mudados depois da assinatura do contrato, a não ser que o prestador de serviço e o cliente concordem com isso. Assim, é importante deixar as condições e o valor bem explicados, para evitar dificuldades.

Também é preciso definir prazos para a entrega do dinheiro e as multas em caso de atrasos. Se for um contrato mais extenso, é importante marcar as regras para o reajuste de preços. Tudo tem que ser colocado de forma clara e detalhada para orientar bem a relação comercial.

Prazo

O contrato é válido por um período e esse tempo não pode ser maior que 4 anos, de acordo com a legislação brasileira. O prazo deve estar definido conforme o serviço. Trabalhos mais complexos podem ter contratos de duração mais longa, por exemplo. 

O rompimento de contrato acontece sem multa se não houver prazo de validade definido. A vigência do documento também depende do prazo de entrega do trabalho.

Condições gerais

O campo de condições gerais serve para colocar informações que não se encaixam nos outros itens. É também onde você deixa claro que não há vínculo trabalhista nem exclusividade entre o cliente e o contratado.

Rescisão, multa e descumprimento

Nesse último item, o documento deve esclarecer quais ações representam descumprimento do contrato e o que será feito com relação a isso. Já a rescisão é quando alguém deseja encerrar o contrato antes do término da vigência do documento e qual a multa para esses casos. Também é preciso indicar quais situações anulam totalmente o acordo.

Por que buscar o apoio de um especialista para fazer o contrato de prestação de serviços?

Você viu quais são os principais itens de um contrato de prestação de serviços. Agora, achamos importante fazer uma recomendação sobre esse documento. A verdade é que montá-lo é uma tarefa difícil, principalmente quando você não é da área jurídica.

A melhor forma de fazer um bom contrato e garantir mais segurança para você e o seu cliente é contar com o apoio de um especialista. Assim, o documento fica bem elaborado e não deixa brechas para a ocorrência de problemas.

Fazer um bom contrato de prestação de serviços é fundamental para o sucesso do negócio. O documento oferece proteção para o cliente e para o profissional, definindo as regras que orientam a relação entre as partes envolvidas. Para ter sucesso nessa tarefa, consultar um especialista é uma boa alternativa.


by GetNinjas

sexta-feira, 23 de julho de 2021

 

MARKETING PESSOAL: ENTENDA COMO VENDER MELHOR O SEU PEIXE


Assim como o marketing tradicional é utilizado para alavancar uma marca, produto ou empresa, o marketing pessoal é uma estratégia eficiente para promover a imagem pessoal e, dessa forma, fortalecer a apresentação profissional no mercado.

Essa imagem, assim como a de uma marca, não é composta apenas de boa aparência, mas também de conteúdo, habilidades, atitudes e relacionamento. Portanto, o marketing pessoal é um conjunto de estratégias que ajuda a alavancar a carreira profissional.

Prossiga com a leitura e veja formas de fazer isso!

Como aplicar o marketing pessoal?

Trabalhar com esse tipo de estratégia demanda conhecimento sobre suas habilidades para explorá-las da melhor maneira possível, aprimoramento constante e muito networking — prática para manter relacionamentos com outros profissionais e pessoas da área. 

O também chamado Self Marketing é importante para todo tipo de profissional, seja ele autônomo, freelancer ou CLT. Isso porque, seja qual for o tipo e a modalidade de prestação de serviço, é sempre importante saber vender o próprio peixe. 

Qual é a importância de saber vender o seu peixe?

Sabemos que o mercado é super competitivo e dinâmico. Por isso, os profissionais precisam estar ligados em todas as novidades, buscando sempre um aprimoramento e relevância.  

E não se engane: mesmo as áreas que estão em alta no momento e com poucos profissionais disponíveis podem, em breve, apresentar muitas pessoas. Afinal, o mercado está em constante mudança e logo essas áreas estarão abastecidas com novos especialistas.

Por isso, lembre-se: ser “vendedor” não é um atributo apenas de profissionais que trabalham com venda de produtos. Ele também é muito importante para qualquer prestador de serviço. O marketing pessoal te ajuda a vender suas habilidades profissionais e a conquistar novos clientes ou empregadores.

Como trabalhar o marketing pessoal para conquistar novos clientes?

O mundo digital é um grande aliado para potencializar o seu marketing pessoal. No entanto, é necessário criar estratégias que vão de encontro com o seu público e que se destaquem em meio aos diversos conteúdos que a sua audiência acessa todos os dias.

Para começar a sua estratégia, portanto, há alguns passos essenciais.

Identifique o seu propósito profissional

Assim como uma marca se posiciona com um objetivo, é importante que você defina o seu propósito. Qual é a sua meta profissional? Como você quer se ver daqui a alguns anos? Perguntas como essas podem te ajudar a ter uma ideia mais clara sobre o que realmente deseja.

Defina o seu público

A partir do seu propósito e do trabalho que está oferecendo, é importante definir o público ideal. Quem mais tem a ver com o seu serviço? Pessoas jovens ou de mais idade? Grupos com uma rotina corrida? Indivíduos que se interessam por artesanato? Pessoas que têm filhos?

Pesquise sobre o conceito de personas e não se prenda a definições de público muito engessadas, baseadas apenas em “gênero” e “faixa etária”. Hoje, as pessoas se conectam por diferentes pontos em comum, como interesses específicos, tipos de rotinas, culturas locais, entre outras coisas.

Aproveite as redes sociais

Depois de definir ou, pelo menos, ter uma ideia do que o seu público tem em comum, é a hora de pensar: onde esse grupo está? Pessoas mais jovens tendem a usar bastante o Instagram, por exemplo.

Se você quer atingir um público um pouco menos digital, pode ser que ele esteja de forma mais constante no Facebook. Agora, se ele inclui pessoas que gostam muito de artesanato e DIY (Faça Você Mesmo), o Pinterest pode ser um lugar interessante.

Esse tipo de análise estratégica é crucial. Tente entender onde o seu público está para criar o perfil ou perfis de forma eficaz. Descubra, ainda, um jeito especial de se comunicar com o público pelas redes sociais. É um grupo que costuma entender memes? Você pode se comunicar de forma descolada ou é melhor seguir uma linha menos informal? 

Além disso, não se esqueça de manter uma periodicidade nas redes sociais do seu perfil. Poste conteúdos relevantes (que tenham a ver com o interesse do público), textos bem escritos e fotos com boa resolução. 

Escolha onde divulgar

As próprias redes sociais que você escolheu para ter perfis podem ser canais com grande potencial de geração de negócios. Dá para fazer estratégias orgânicas e pagas, os chamados “ads”, que impulsionam o alcance dos seus posts nas redes. Se você optar por um site, também pode impulsioná-lo no Google por meio de estratégia de SEO (orgânica) ou SEM (anúncios pagos). 

Outras opções são as plataformas digitais, que podem potencializar o seu alcance com baixo investimento. O GetNinjas, um aplicativo com mais de 200 tipos de serviços disponíveis, é uma boa opção para o profissional conseguir clientes de maneira simples e rápida. Por meio desta estratégia, é possível conseguir contatos de clientes em poucos minutos e partir diretamente para a etapa da negociação.

Tenha uma estratégia consistente e contínua

Depois que você tiver acesso aos primeiros clientes, precisa continuar a sua estratégia para manter um relacionamento duradouro, com uma comunicação consistente, clara e adequada ao seu público.

Mantendo um bom relacionamento com esses clientes, você poderá potencializar ainda mais o seu negócio — dessa vez, de forma orgânica. Isso porque, ao estreitar essas relações, você começa a criar propagadores do seu trabalho.

Busque um diferencial

Ter um diferencial é outro ponto importante, mas você não precisa inventar algo completamente novo. A criatividade e a inovação não estão restritas às grandes empresas, por isso, procure adicionar o seu toque especial e autenticidade ao produto ou serviço.

Temos como exemplo o profissional que deixa um bombom e um bilhetinho na casa do cliente, que pergunta se a pessoa gostou do serviço, que manda feliz aniversário para aqueles que o contrataram ou que se comunica de forma divertida e envolvente. 

Quais erros de marketing pessoal devem ser evitados?

Todos exercemos papel de cliente em diversas situações do dia a dia. Logo, sabemos que algumas atitudes podem acabar com a satisfação em relação a um profissional, certo? Erros e divergências nas informações passadas, nos prazos e na qualidade do serviço devem ser evitados ao máximo.

Por isso, seja empático e claro ao passar as informações sobre o serviço. Invista no marketing pessoal, cumpra com os prazos e certifique-se de estar oferecendo um trabalho de alta qualidade. 


by GetNinjas

sexta-feira, 16 de julho de 2021

 



"Quase", postado abaixo, foi escrito em 2002 por Sara Westphal numa sala de cursinho preparatório para um segundo vestibular de Medicina. O professor pediu licença para ler em voz alta a redação da mocinha e duas ou três colegas gostaram tanto do texto que lhe pediram uma cópia, as quais ela fez à mão.  

Desde então, "Quase" mudou a vida de muitas pessoas... Quatro anos depois e Sara na faculdade de Medicina, num domingo de Páscoa, leu no jornal, na coluna de Luís Fernando Veríssimo, algo que dizia assim: "Eu gostaria de encontrar o verdadeiro autor de "Quase" para agradecer a glória emprestada e para lhe dar um recado". E eis que ali estava ela, reconhecendo o texto que um dia escrevera na sala de cursinho... 

Do contato com Veríssimo, ficou sabendo que "Quase" havia sido traduzido para o francês "Presque" e que fazia parte de uma coletânea de grandes nomes escritores brasileiros, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e outros - lançada no Salão do Livro de Paris... O "Quase" de Sarah rodou o mundo: "Minha redação de cursinho cruzou o mundo como se fosse do Veríssimo... Virou letra de música, tatuagem, rap na Guiana Francesa, espetáculo de dança, questão de vestibular, de concurso público, e até anúncio de funerária. Fez parte das turnês de Ana Carolina e também foi lido pela Ana Maria Braga". Mas para Sara, demorou ainda mais uns anos até que largasse a Medicina e se tornasse jornalista... na Austrália. Ah!, essa internet.... 

QUASE, de Sara Westphal

 “Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas ideias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.”

 

Li, gostei, compartilhei.

Paulo Roberto Barboza

terça-feira, 6 de julho de 2021

 

As mães demitidas durante a pandemia: "Tentei conciliar trabalho com meu bebê, mas perdi o emprego"

                      Mulher ajudando filha na escola, em foto de arquivo; "entre a população que trabalha                                         de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educação                                 e dos cuidados das crianças", diz estudo de Cambridge

A pandemia chegou quando a advogada Nádia Silva, de Goiás, estava em seu segundo mês de licença-maternidade. Mãe solo (embora receba pensão do pai da criança), ela pretendia juntar um mês de férias à licença e aproveitar o período para encontrar um berçário para deixar o bebê quando voltasse ao trabalho. O plano não deu certo: os berçários continuam fechados, e a empresa exigiu a volta dela sem conceder as férias.

A analista de contratos tentou equilibrar tudo — cuidados com o bebê, trabalho em tempo integral em home office e cuidados com a casa — , mas a situação ficou insustentável.

"Às vezes eu acordava às 4h da manhã para terminar meu trabalho antes de o bebê acordar. E também fazia todo o trabalho doméstico", conta à BBC News Brasil. "Dois meses depois, pedi para a empresa um novo arranjo e um aumento, para eu poder pagar uma babá. Acho que eles acharam que eu não valia tudo isso. A generosidade deles foi de me demitir, o que pelo menos me deu uma indenização."

No momento, Nádia não enxerga formas de voltar ao mercado de trabalho. "Não tenho muito apoio na família para cuidar do bebê, não tenho perspectivas de haver creche e berçário com segurança agora. É difícil, porque eu me esforcei bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Você se sente desvalorizada como mulher e como mãe."

Sinuca

Em Santa Catarina, Taís (os sobrenomes de algumas entrevistadas serão omitidos para proteger sua identidade) está há um mês em seu novo emprego, que aceitou por lhe permitir trabalhar remotamente enquanto cuida dos filhos menores, de 8 e 12 anos. Mas agora a empresa planeja voltar ao trabalho presencial, colocando Taís — que também é mãe solo — em uma sinuca de bico.

"O que eu vou fazer com as crianças? Passei por todo o treinamento no trabalho, mas neste mês não tenho como voltar (para um escritório)", diz à BBC News Brasil, temendo ser forçada a abrir mão do novo emprego em plena pandemia — e poucos meses depois de ter sido demitida de um cargo anterior em outra empresa. O motivo da demissão: os chefes viram mensagens de texto que ela havia mandado a colegas, questionando a política da empresa de não migrar para o teletrabalho no início da quarentena.

Agora, diz ela, "as minhas dívidas estão crescendo, e o valor da pensão das crianças é baixo. Dá o nervosismo de precisar trabalhar, mas como vou deixar as crianças? Não posso botar a responsabilidade em cima do meu filho mais velho. Óbvio que vou escolher ficar com eles em vez do emprego".

Marcella, moradora da Grande São Paulo, não tem filhos, mas se comoveu, ainda em março, ao descobrir que uma colega de trabalho estava tendo de deixar os filhos de 5 e 7 anos sozinhos em casa porque a empresa delas, uma multinacional de prestação de serviços, não criou uma política de teletrabalho em um momento em que as escolas já haviam fechado as portas. Mas, quando Marcella discutiu o caso com uma superior, ouviu apenas: "não posso fazer nada".

                "Não tenho muito apoio na família para cuidar do bebê, não tenho perspectivas                                   de haver creche e berçário com segurança agora. É difícil, porque eu me esforcei                              bastante, trabalhava dia e noite, com uma sobrecarga emocional enorme. Você                                  se sente desvalorizada como mulher e como mãe."

"Fiquei desesperada com aquilo. Eu estava em uma situação privilegiada porque não tinha filhos, mas pensei nas mulheres mães. Comecei a ficar muito mal, sem conseguir dormir", conta.

Ao denunciar o caso ao setor de compliance da empresa e questionar seu chefe a respeito do caso, Marcella diz que foi demitida, sob a justificativa de "corte de gastos na pandemia".

"Estou procurando emprego remotamente, tentando encontrar um lugar menos pior no mundo corporativo", afirma.

A colega mãe, Marcella soube mais tarde, continuou trabalhando presencialmente e precisou contratar uma pessoa para cuidar dos filhos.

'Retrocesso de 30 anos na participação feminina'

Os exemplos acima encontram respaldo nos números: embora a pandemia tenha provocado desemprego em massa e bagunçado arranjos profissionais de modo generalizado, as mulheres — e as mães de crianças pequenas, em especial — estão entre os grupos mais afetados, ao serem colocadas em situações-limite nas empresas ou por simplesmente não encontrarem formas de conciliar o trabalho com o cuidado com os filhos.

No segundo trimestre de 2020, o desemprego medido pela pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, foi de 12% entre homens e 14,9% entre mulheres. A mesma pesquisa mostrou, em junho, que 7 milhões de mulheres haviam deixado o mercado de trabalho na última quinzena de março, contra 5 milhões de homens.

E análises mais detalhadas dos dados históricos mostram um retrocesso de três décadas da presença profissional feminina, segundo o pesquisador do Ipea Marcos Hecksher.

Em dados cedidos inicialmente para o G1, ele identificou que, durante a pandemia, a participação das mulheres no mercado de trabalho, que vinha aumentando gradativamente, voltou para o nível observado em 1990.

Só no subgrupo de mulheres com filhos de até dez anos, a participação delas no mercado caiu de 58,3% no segundo trimestre de 2019, para 50,6% no segundo trimestre de 2020. Na prática, só a metade delas, portanto, está no mercado profissional.

"Historicamente, o nível de desemprego é maior e a participação no mercado é menor entre as mulheres, mas vinha ocorrendo uma lenta convergência para o nível dos homens", explica Hecksher à BBC News Brasil.

"Só que a pandemia os afastou de novo. Os homens foram impactados, mas elas foram ainda mais. Demos um salto de 30 anos para trás na participação feminina. Não levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco será algo rápido."

Os custos disso não serão sentidos apenas por elas, mas por toda a economia brasileira, prossegue o pesquisador.

                A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequilíbrio                                  nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado                              de trabalho

Isso porque a entrada das mulheres no mercado foi crucial para aumentar o PIB (Produto Interno Bruto) — o somatório dos bens e serviços produzidos no país.

Invisibilidade do trabalho não remunerado

E por que elas estão sendo mais afetadas do que os homens?

As diferenças são estruturais e em grande parte ligadas ao trabalho não remunerado de cuidados com os filhos, diz Hecksher. "Temos estudos no Ipea que mostram que, quando a mulher fica grávida, ela muitas vezes para de trabalhar e também de estudar. E com o pai não acontece nada. Quando o filho nasce, as mães em geral voltam aos poucos ao mercado de trabalho, mas ficam mais do que eles na informalidade. Isso é histórico, porque se atribui muito mais os cuidados dos filhos às mulheres."

É o caso, por exemplo, de Vânia Suster Sampaio, de Santo André (SP), mãe solo de três filhos. Ela já sabe que sua área de trabalho — produção de eventos — será uma das últimas a voltar à normalidade presencial quando a pandemia arrefecer.

Sem renda fixa desde março, ela não conta com pensão alimentícia regular. O fato de uma das filhas estar finalizando o tratamento de câncer (e portanto, ser do grupo de risco) também dificulta que ela saia de casa para procurar outros tipos de emprego.

"Preciso voltar ao ritmo de antes, ao meu valor de salário, ou não sei o que vai ser", conta Vânia, que tem contado com o auxílio emergencial do governo, com trabalhos freelance e com a ajuda de conhecidos. "Além da tensão de não ter emprego, é o dia inteiro recebendo ligação de cobrança (de pagamentos atrasados)."

'Situação insustentável e desumana'

O problema não se limita ao Brasil. Um levantamento da Universidade de Cambridge com dados do mercado de trabalho de EUA, Reino Unido e Alemanha durante a pandemia apontou que "mulheres e trabalhadores sem diploma têm chance significativamente maior de ter perdido seu emprego" em relação a outros grupos.

O estudo nota que "entre a população que trabalha de casa, as mulheres passam significativamente mais tempo (ocupando-se) da educação e dos cuidados das crianças".

A pandemia escancarou um problema que antes era individual: o desequilíbrio nos cuidados com as crianças e a invisibilidade dessas tarefas perante o mercado de trabalho, afirma Maíra Liguori, diretora da Think Eva, organização de defesa dos direitos femininos que presta consultoria a empresas na promoção da igualdade de gênero.

"Existe uma situação insustentável e desumana para as mulheres com crianças, com efeitos duradouros", diz Liguori, uma vez que a interação de qualidade com adultos é crucial para a formação do cérebro e das habilidades emocionais das crianças, sobretudo as pequenas.

"Muitos dizem 'ah, não tenho culpa que ela quis engravidar'. Mas imagine como seria um mundo em que as mulheres não cuidassem mais das crianças? A gente esquece da importância desse trabalho de construir o futuro (da sociedade). Se queremos adultos saudáveis, precisamos que essa conversa saia do âmbito individual e vá para o coletivo."

Para Nádia Silva, a advogada que perdeu o emprego por não conseguir conciliá-lo com o filho pequeno, a sensação é de que "as pessoas não veem o papel social da mãe".

"Vigora um discurso de que a mulher vale menos", opina. "A empresa poderia ter negociado comigo. Seria o papel social dela. A gente acha importante não maltratar animal e reciclar lixo, mas não acha importante ajudar uma mãe a criar um filho?"

             ''Demos um salto de 30 anos para trás na participação feminina (no mercado de trabalho).                Não levaremos outros 30 anos para recuperar isso, mas tampouco será algo rápido",                       diz pesquisador

Mais empregos com menores jornadas?

Ao mesmo tempo, como trazer de volta mais mulheres para o mercado? Hecksher, do Ipea, defende que essa questão seja incluída no debate em torno de quanto imposto os empregadores devem pagar ao contratar funcionários em regime CLT.

Vigora, até o fim deste ano, a desoneração da folha em 17 setores da economia, e a prorrogação desse benefício é motivo de disputa entre o governo federal e o Congresso.

Hecksher é parte de um grupo de estudiosos que propõe que essa desoneração seja estendida para outros setores (no caso de novas contratações, e não de contratos já vigentes), mas aplicada apenas para jornadas de trabalho mais curtas.

"O objetivo é tornar mais barato que um empregador contrate duas pessoas por 20 horas semanais do que um funcionário por 40 horas semanais", diz ele.

"Com isso, conectamos mais gente ao mercado de trabalho formal. Isso tende a beneficiar mais as mulheres, que com mais frequência do que os homens (aderem) a jornadas parciais. Com isso, também daríamos um benefício às empresas por chamar alguém que está sem trabalho, em vez de concentrar mais trabalho em menos gente."


by  Paula Adamo Idoeta, Da BBC News Brasil em São Paulo



                    

quinta-feira, 1 de julho de 2021

 

Dá para ser promovido no emprego mesmo trabalhando de casa?


Com tanta gente trabalhando de casa por causa da pandemia, surge a pergunta: é possível ser promovido sem estar no escritório? Qual é a melhor maneira de ser notado pelo chefe e se destacar dos colegas?

O fato de trabalhar de casa por causa da pandemia torna, sem dúvida, o desafio maior. Se você está trabalhando no sofá ou na mesa da cozinha, não vai esbarrar com seu chefe no café, vê-lo pessoalmente nas reuniões diárias ou ter a chance de trocar uma ideia no corredor.

Da perspectiva do seu gestor, embora ele ou ela possa dizer facilmente o quão duro alguém está trabalhando no escritório, às vezes é difícil para eles resistirem à ideia de que os funcionários podem estar brincando com os filhos, passeando com o cachorro ou fazendo um bolo durante o expediente.

Melanie Wilkes, consultora de políticas do centro de estudos Work Foundation, afirma ser importante que os funcionários que trabalhem de casa mantenham contato próximo com a chefia.

                   Seu comportamento nas videoconferências de equipe é muito importante

"Estamos vendo muitos trabalhadores assumindo múltiplas responsabilidades que não tinham antes da crise. Portanto, certifique-se de que isso seja notado e registrado, mesmo que seja apenas em um email", diz ela.

Wilkes acrescenta que os funcionários precisam se assegurar de que as políticas de recursos humanos da empresa ainda estão sendo seguidas, como as sessões regulares de feedback.

"Você ainda precisa ter reuniões regulares com seu gestor direto para avaliar seu progresso, assim como faziam antes", afirma a consultora.

"Isso dá ao seu chefe uma noção do que está funcionando bem e do que você deseja fazer. É essencial para sua jornada rumo à promoção."

                   Se seu chefe está indo para o escritório, isso oferece uma vantagem para                                            a equipe que faz o mesmo?

Sharon Clarke, professora de Psicologia Organizacional da Escola de Negócios Alliance Manchester, no Reino Unido, concorda que é importante enfatizar suas vitórias.

"Adaptabilidade e inovação serão muito importantes para o sucesso de uma empresa (no novo mundo do coronavírus), portanto, ser criativo e dar ideias será fundamental", diz ela.

"Tente apresentar suas ideias para que você possa ser reconhecido."

Principais dicas para ajudar em uma promoção:

- Mantenha contato regular com seu chefe por email, telefone ou videochamada;

- Deixe seu chefe a par de quanto trabalho você está fazendo;

- Peça mais responsabilidade;

- Apresente ideias;

- Certifique-se de que a avaliação anual de desempenho seja feita;

- Assegure-se de que a empresa siga a política de RH existente.

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Tudo isso também vale na outra direção: os chefes devem se certificar de que os funcionários estão trabalhando particularmente bem e arduamente de casa.

"Os chefes precisam estar atentos para obter mais detalhes, para que saibam o que está acontecendo" diz Anne Sammon, sócia do escritório de advocacia Pinsent Masons.

Se os funcionários descobrem de repente que todos aqueles que trabalham no escritório estão sendo promovidos, e quem está em casa não, pode haver bons motivos para um caso de discriminação.

Anne Davies, professora de Direito e Políticas Públicas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, concorda que os gestores precisam analisar de perto o desempenho dos funcionários que trabalham de casa.

"Se você tem pessoas trabalhando de casa, deve acordar sobre como vai monitorar o trabalho delas e ter critérios objetivos para avaliar como estão se saindo", sugere.

"Quando você promove alguém, está sempre aberto a contestações por motivos de discriminação, e você deve ser capaz de mostrar que está sendo justo."

                Anne Davies diz que as empresas precisam analisar de perto como os funcionários                            estão trabalhando de casa

Segundo ela, os chefes devem se lembrar de que é do interesse deles encontrar os melhores funcionários para promover.

"Os gestores terão que trabalhar mais para identificar quem está fazendo um esforço real (em casa)", diz Clarke.

"Se você (como gestor) realmente espera fazer a diferença no seu negócio, precisa ser capaz de identificar os talentos que estão dando uma contribuição maior."

    

by Jonty Bloom, BBC News