quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Por que 'trabalhe com o que você ama' pode ser um péssimo conselho.

         Estudo questiona a forma como estamos escolhendo as nossas carreiras.



Siga o seu coração.
Encontre a sua paixão.
Trabalhe com o que você ama e você não terá que trabalhar nenhum dia.
Certamente você já ouviu algum desses conselhos, mas talvez você nunca tenha pensado sobre quais são as consequências disso. Para o professor de psicologia da Universidade de Yale, Paul O'Keefe, as frases, apesar de serem conhecidas, não fazem o menor sentido. O'keefe argumenta que paixões não são "encontradas", elas são desenvolvidas.
"Isso significa que, se você faz algo que parece com um trabalho, significa que você não deve gostar. Imagine um estudante que pula de um laboratório para outro, tentando encontrar alguém cujo tema de pesquisa pareça ser a sua paixão dela. É essa a ideia errada de que, se eu não ficar completamente preenchido pela emoção assim que entrar em um laboratório, então nada ali será a minha paixão ou do meu interesse", disse o pesquisador em entrevista a The Atlantic.
No trabalho intitulado Implicit Theories of Interest: Finding Your Passion or Developing It? (Teorias Implícitas de Interesse: Encontrando Sua Paixão ou Desenvolvendo-a?, em tradução literal), publicado na revista acadêmica Psychological Science, os autores argumentam que há dois tipos de mentalidade. A primeira delas trata-se de uma "teoria de interesses fixos". Isso significa dizer que os nossos interesses centrais estão presentes em nossa vidas desde o nascimento, apenas esperando o momento em que eles serão descobertos. A outra é uma "teoria do crescimento", e está ligada a ideia de que os interesses são cultivados ao longo do tempo.
A fim de entender como essas teorias afetam a nossa busca por interesses durante a vida, os pesquisadores realizaram uma série de testes com um grupo de estudantes universitários.
Primeiro, o grupo se dividiu entre "tech", aqueles com interesse maior em disciplinas como matemática e ciência; e "difusos", que se interessavam por áreas como artes e humanidades. Eles foram expostos a uma série de leituras e responderam questionários.
O resultado? Os alunos que se identificaram com a teoria de interesses fixos mostravam menos disposição de participar de eventos ou oportunidades interessantes, porque entendiam que os temas propostos não se alinhavam com as expectativas de paixões e interesses que eles já tinham definidos. Ou ainda, parte dos estudantes ignorava o fato de que temas diferentes poderiam ter algo a agregar.
O'keefe, ainda, chama atenção de que essa teoria de interesses fixos pode se tornar prejudicial porque é um argumento para desistir de certas tarefas. Ora, se algo está díficil, é porque eu não me identifico, então não deve ser a minha paixão. Pulamos para a próxima atividade.
Carol S. Dweck, outra autora do trabalho, defende que as pessoas que têm um mindset de crescimento tendem a ter menos medo de falhar. De acordo com a sua pesquisa, essas pessoas acreditam que a inteligência é cultivada e não inerente ao indíviduo.
Um estudo diferente, dessa vez realizado com adultos, sugere que as pessoas que pensam que as paixões são "fixas" tendem a escolher empregos em que elas se sintam bem em tudo, desde o início. Essas pessoas priorizam o prazer em vez de um bom salário, por exemplo. Já o grupo que entende que os interesses são desenvolvidos tendem a priorizar outros objetivos em detrimento ao prazer imediato no trabalho. De acordo com os pesquisadores, "eles entendem que os interesses se desenvolver para se adequar melhor às suas vocações ao longo do tempo. Então, as pessoas que não se encaixaram perfeitamente em uma carreira, por exemplo, podem ficar animados - há mais de uma maneira de alcançar a paixão pelo trabalho".
Mas como, então, desenvolver um mindset mais flexível? Para os pesquisadores não há apenas uma receita correta, mas investigar certas ideias fixas, como "encontre a sua paixão", já é um bom começo. Afinal, por que não estarmos todos abertos para as outras possibilidades que existem?

by Ana Beatriz Rosa, Huffpost

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