domingo, 22 de abril de 2018


O que aprendi quando voltei a ser liderado
Voltas que o mundo dá e, anos atrás, eu finalmente realizava o sonho de trabalhar na diretoria do grande banco no qual fiz carreira por uma década antes de empreender. Embora se tratasse de uma promoção, após um bom tempo liderando equipes de aproximadamente vinte funcionários, eu não seria mais “gerente” e sim "assessor". Teria um líder e não lideraria ninguém.
A experiência me trouxe uma infinidade de desafios: atuação no nível estratégico da organização, realização de trabalhos totalmente diferentes dos que eu estava acostumado a executar, desenvolvimento de novos conhecimentos e habilidades. Além de tudo, dei uma sorte danada, pois meu novo chefe era um baita profissional e me ensinou um bocado.
Foram muitas as lições que aprendi com ele. Compartilharei seis delas, que continuo carregando comigo desde então. Os tópicos estão organizados como "conselhos", mas refletem experiências reais e lições aprendidas com a prática.

1. Jamais seja um figurante em uma reunião

Se você foi chamado para uma reunião, há um motivo para isso. Dê sua visão, contribua. Quando necessário, faça os contrapontos, manifeste opiniões contrárias, aponte riscos e oportunidades não mapeadas. Não importa quem sejam os interlocutores. Gestores precisam ser bem assessorados. Não caia na tentação, tão comum em grandes empresas, de se omitir para não se comprometer. "Ponha o seu na reta", é isso que se espera dos bons profissionais.

2. Coloque os jogadores para jogar

Empodere seus liderados. Deixe que eles tomem parte nas discussões, integrem os projetos e trabalhos desde o momento zero. Participei de muitos fóruns, reuniões e processos de tomada de decisão ao lado desse gestor, os quais, teoricamente, eram restritos aos executivos e estatutários. Quando meu líder era questionado por algum figurão sobre o que seu assessor estava fazendo ali, a resposta sempre era: "Não há restrição de informação na minha equipe. Se há algo que eu possa saber, meus funcionários também podem. E outra, vamos poupar o telefone sem fio e as falhas de entendimento. É ele quem ficará responsável pela realização desse trabalho. Por que eu vou me colocar como um cotovelo nesse processo?" Reter informação é um instrumento de poder muito comum no ambiente corporativo. Não ceda a essa tentação. Coloque sua equipe no jogo para valer e os resultados serão muito melhores.

3. Esse é o melhor trabalho que você pode me entregar?

Uma característica das empresas mais verticais e hierarquizadas é que, geralmente, você não será o único responsável por um trabalho. Como as decisões tomadas em uma grande empresa geram grandes impactos, normalmente, seus sistemas de governança possuem freios e contrapesos para mitigar os riscos envolvidos. Se por um lado isso traz benefícios óbvios, por outro, pode resultar em um baixo comprometimento e em pouco "sentimento de dono” em relação aos trabalhos pelos quais você responde. "Já que várias pessoas ainda vão aprovar isso, para que eu preciso me esforçar tanto?"
Sobre este ponto, havia um remédio quase infalível. Nós chegávamos lá para validar uma primeira versão de uma nota técnica, para mostrar um relatório ou aquele ppt bacana que o Diretor encomendou e a primeira pergunta era: "Esse é o melhor trabalho que você pode me entregar na data de hoje? Eu vou olhar esse material e saber que você colocou seu melhor nele”? A repetição da prática formou um hábito positivo. Ela realmente nos fazia pensar, durante a elaboração de cada trabalho, se estávamos atentando para todos os aspectos, se tínhamos consultado todas as fontes que precisavam ser consultadas, se havíamos conversado o suficiente com os membros da equipe e se estávamos de fato entregando um trabalho de qualidade. Quando eu respondia "sim" ao questionamento, eu realmente queria que cada entrega refletisse minha melhor versão naquele momento.

4. Lateralidade e gestão de demandas

Tenha uma planilha de gestão de atividades (que pode ser um software, um Excel, um kanban ou qualquer outro formato que se ajuste às peculiaridades de cada organização) e um lateral, uma espécie de banco de reservas, na realização de cada tarefa. Essa prática nos obrigava a conversas constantes entre os membros da equipe e reduzia significativamente o impacto de ausências, tanto as programadas quanto as inesperadas. Se alguém ficasse doente ou tivesse algum tipo de emergência pontual, os impactos eram minimizados. Sempre sabíamos, de um modo geral, o que todos da equipe estavam fazendo e conhecíamos em profundidade as tarefas nas quais éramos os laterais.

5. Prepare sucessores

Dá trabalho formar um profissional, e é por isso que muitos gestores declinam dessa função. Além disso, há aqueles que se sentem ameaçados por seus subordinados e, por conta disso, nada fazem para formar sucessores. Esse gestor empregava muito do seu tempo em desenvolver as potencialidades de cada um. Para tanto, fazia com que cada projeto fosse também uma oportunidade de aprendizado. Isso envolvia muitas horas de explicação, de transferência de experiência, de delegação e mentoria em atividades, que, se ele mesmo executasse, seriam realizadas em muito menos tempo. E, principalmente, na delegação não só de tarefas, mas de responsabilidades.
Preparar seus sucessores está entre as responsabilidades mais nobres de qualquer gestor. Se você é um bom líder, deve estar seguro de que vai ascender e terá novos desafios. Se você trabalha por sua ascensão, então é sua obrigação preparar aqueles que poderão assumir suas atuais funções.

6. Não tenha medo de perder os melhores; ao contrário, lute por isso


Se você forma uma equipe de excelência, certamente seus liderados serão valorizados e, em alguns momentos, disputados pelo mercado. Para mim, esse é um ponto crítico que separa os grandes gestores daqueles que são apenas bons. Um grande gestor auxilia no encarrreiramento de seus liderados e sabe que o custo de ter uma equipe de ponta é ver seus funcionários progredindo. Perdeu alguém? O ciclo recomeça e um novo profissional terá a chance de ser formado. Um grande líder sabe que, muitas vezes, não terá espaço para promover ele mesmo toda a equipe e luta para que seus profissionais sejam vistos e promovidos em outras áreas e em outras empresas. Não bloqueie o desenvolvimento de quem já contribuiu muito, trabalhe para que talento e empenho sejam sempre reconhecidos. Crie círculos virtuosos.
Sempre ensine o que você aprendeu (Yoda).
Fonte da imagem: Sociedade Jedi
Bons líderes são assim, passam e deixam lições. Trabalhe para ser relevante na vida profissional dos seus liderados e se esforce para aprender com cada líder que cruzar o seu caminho.
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E você, que lições aprendeu com um líder e levou para a vida toda? Me conta nos comentários e vamos espalhar boas experiências e práticas.
Kaio Serrate

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