quarta-feira, 15 de julho de 2015

Profissão logística: entrevista com professor de graduação e especialização

Profissão logística: entrevista com professor de graduação e especialização

Temos visto que a experiência e o ensino formal fazem diferença para o sucesso profissional, com vários entrevistados dando ênfase às pós-graduações e à leitura de textos especializados. Esta é a visão que o mercado tem, aquilo que você precisa fazer para conseguir entrar nesta área. Mas você já parou para pensar como os professores vêem os alunos de logística?


Apresentamos uma entrevista com o Professor Neimar Follmann. Dentre outros assuntos, discutimos o papel da logística nas empresas, o foco em redução de custos e qual o papel dos estudantes de logística neste cenário. Veja como alguns alunos superam as dificuldades e quais as técnicas que ajudam a obter sucesso, além das opiniões do Professor Follmann sobre nossa área.
O Professor Follmann trabalha principalmente em cursos de especialização em disciplinas relacionadas à logística, comologística empresarial, Gestão de Estoques e Tecnologias Aplicadas à Logística. Também já trabalhou em cursos de graduação e nos chamados sequenciais. “Procuro sempre aliar teoria e prática, seja com exemplos ou incentivando os alunos a participar com sua vivência”, diz o Professor Follmann, pois “isto é possível porque minhas turmas, até o momento sempre foram de pessoas que trabalham durante o dia e estudam a noite. Esta é uma grande vantagem deste tipo de aluno, possuem experiência para discutir os temas a partir da sua realidade”.
Confira a entrevista na íntegra:
Professor Follmann, em geral, quais os pontos fortes e fracos dos seus alunos de logística?
Professor neimar follmann - logísticaA maior parte dos alunos com quem tenho trabalhado tem formação e atuam em áreas menos técnicas ou tecnológicas e mais gerenciais. Apresentam grande facilidade em entender relações sistêmicas, como relações de causa e efeito e geralmente trabalham muito bem em equipe. Por exemplo, tenho trabalhado o Jogo da Cerveja em minhas aulas de Logística, e é fantástico o resultado sob o aspecto gerencial e político, como o fato da possibilidade do compartilhamento de informações trazer benefícios para toda a cadeia. As equipes realmente se envolvem na discussão para que se chegue a melhor decisão.
Por outro lado percebo dificuldades nos trabalhos extra-classe. O motivo principal que detectei é que há no dia-a-dia não sobra tempo e nem disposição para executar tais trabalhos, mesmo estes trabalhos estando alinhados com a prática. No entanto, o que é um problema é também umaqualidade quando os alunos estão em sala, eles possuem experiência prática, conseguem participar ativamente e questionar a teoria, apresentar idéias, enfim, facilitam a transição da teoria para a prática.

Qual é a principal mudança no perfil dos alunos dos cursos de logística nos últimos anos?
Não tenho como responder sobre a mudança do perfil, já que não estou há tanto tempo neste mercado. No entanto, hoje trabalho com alunos que tanto estão em início de carreira como alguns que ocupam cargos de alta direção. Percebo que estes últimos são geralmente mais céticos em relação à teoria, isto é, possuem conceitos mais arraigados. Mas, de forma geral, eles vem com uma boa visão de logística e com isto geram-se discussões bastante interessantes sobre o tema.

Em sua opinião, quais as tendências para esta área?
A redução de custos é sempre mais do que uma tendência, é uma realidade em todas os campos de negócios e todas as áreas das empresas. Assim, focando em tendências, entendo que ocorrerá nos próximos anos uma mudança drástica na forma como tratamos os recursos naturais. A grande revolução tecnológica será no sentido de saber utilizar melhor o que a natureza nos oferece, sem agredi-la tanto como atualmente é feito. Isto tem impacto direto na forma como executamos a logística das empresas.
Vamos precisar integrar melhor as operações dentro e fora das empresas. A Tecnologia da Informação desempenhará um papel ainda mais importante. Ou melhor, sofrerá melhorias no sentido de se adequar aos diferentes contextos e integrá-los efetivamente.
É difícil dizer, no entanto, se a logística ganhará maior ou  menor importância nos próximos anos. Há empresas em que a logística é estratégica, é o cerne do negócio ou no mínimo um elemento muito importante. Para estas é natural que a área receba grandes investimentos, novas tecnologias e treinamento de pessoal. Por outro lado há empresas que se dedicam mais ao desenvolvimento de produtos, em que a logística não tem papel central, apesar de necessário. Para estas, acredito que os Operadores Logísticos podem ser importantes.

Como o senhor vê as matérias da área de logística nos cursos de graduação?
Não tenho atuado na graduação nos últimos anos, mas já vi vários formatos. Um que trata a logística como algo dentro do curso de gestão de materiais. Neste caso a logística passa a ser algo bem específico, dando-se ênfase à gestão de materiais. Outro, possui uma disciplina de logística empresarial na qual são tratadas as diversas áreas que a logística envolve. Devem existir outros, mas são estes que presenciei.
Tentando me colocar como aluno, a disciplina de logística deve partir do técnico para o gerencial. No entanto, considerando que num curso de administração, por exemplo, o aluno quer ter condições de, digamos, gerenciar a logística de uma empresa, o professor não pode perder de vista a necessidade de explicitar como a técnica vai auxiliar o aluno na gestão. Parece óbvio, mas muitas vezes as expectativas dos alunos não estão alinhadas como que está sendo oferecido pelo professor da disciplina. Então é necessário deixar claro o porque de cada assunto trabalhado em sala.

E com respeito aos cursos de especialização, na pós-graduação?
Comentei no início que geralmente meus alunos são mais da área de gestão do que da área técnica ou tecnológica. Bem, mesmo a maioria sendo da área de gestão, há uma grande diversidade de interesses em uma sala de aula. E é preciso atender a todos. Isto leva a uma característica mais generalista, o que não é o ideal para ninguém. Mas, é o mais próximo que se consegue chegar. Daí a importância de se oferecer trabalhos extra-classe, para que o aluno tente lapidar seu conhecimento para o seu campo de atuação.
Esta generalização também vem da forma como os cursos são oferecidos. Se em uma determinada região há a necessidade de reciclagem de seus profissionais e estes, na maioria das vezes, não tem condições de ir até centros maiores, é preciso que ali algo seja oferecido pelas instituições de ensino. Estas tentam se adequar ao maior número de interessados, para tornar viável a oferta. Assim, o contexto generalista de uma disciplina inicia-se na definição da grande curricular do aluno. Então, não se pode dizer que isto é ruim ou bom porque parte-se de uma necessidade regional.


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