quinta-feira, 31 de maio de 2018

O empreendedor deve conhecer a si mesmo


É preciso praticar o autoconhecimento para saber quais características empreendedoras você já tem e quais ainda precisa desenvolver por meio de cursos ou mentorias.



Toda esta onda em torno do tema empreendedorismo, principalmente provocada pela mídia, que relata histórias de sucesso de grandes empreendedores brasileiros, tornou o status de empreendedor desejável por muitos jovens, que ingressam no ensino superior em busca de uma formação básica para começarem suas ‘startups’. Todas as vezes que eu trato do tema e discutimos os traços e características dos empreendedores, não me surpreendo mais quando uma boa parcela, bem mais da metade dos alunos, se julga empreendedora, com muita segurança de sua opinião e orgulho.
Empreendedores são empreendedores porque apresentam um conjunto de características que os ajudam a superar as dificuldades típicas enfrentadas na fase inicial do empreendimento. Entre essas características, destacam-se resiliência, liderança, criatividade, tenacidade, determinação, foco, persistência, comunicabilidade. Os jovens universitários são tão cheios de si que acham que já estão prontos.
Um dos alunos, por exemplo, alega que é empreendedor porque é comunicativo, e todo empreendedor tem muita habilidade em se comunicar. Ele não sabe, mas o que ele julga ser uma qualidade é na verdade um defeito, pois ele fala demais. Outro diz que tem bastante autoconfiança, mas na verdade ele é arrogante, pois tem excesso de autoconfiança. Um terceiro aluno é bastante criativo, o que poderia ser visto como uma qualidade empreendedora, mas ter muitas ideias geralmente reflete em defeito quando não existe a capacidade de executá-las.
Não tenho a menor dúvida que muitos alunos possuem várias das características empreendedoras. Mas, como tudo na vida, o que é bom pode se tornar ruim quando em excesso. Existe uma tendência da natureza humana em se identificar com o que nos é familiar e de nosso domínio. Quando enfatizamos essas características, o que acontece é que uma virtude se transforma em um defeito. Excesso de autoconfiança, excesso de criatividade, excesso de comunicabilidade, excesso de empatia, excesso de determinação.
Quando falamos que quem quer se tornar empreendedor precisa desenvolver sua autoconfiança, esse conselho só vale para os inseguros e introvertidos. Se a pessoa que já é autoconfiante seguir esse conselho, irá se tornar arrogante e cego, não enxergando nada além de suas convicções e não ouvindo ninguém além de si próprio.
Isso vale para quase todas as características ditas ‘empreendedoras’ ou de ‘liderança’. Se persistência é uma qualidade empreendedora, a teimosia é o defeito. Se a organização é uma qualidade, a burocracia é o defeito. Se a flexibilidade é a qualidade, a falta de consistência é o defeito. Se a visão do todo é a qualidade, a falta de detalhamento é o defeito. Para toda qualidade, há sempre um defeito, quando ocorre o excesso.
Vamos olhar agora um pouco para o outro lado, os defeitos. Você acha que não é empreendedor porque tem muitos defeitos que empreendedores não tem, certo? Vamos lá, veja alguns casos típicos. Você não se julga empreendedor porque nada que faz dá certo. A tolerância ao fracasso não é um defeito, é uma qualidade do empreendedor. Ou porque você não foi para a universidade - mas a ênfase na formação superior acaba racionalizando demais as pessoas, tornando-as rígidas e inflexíveis. Ou ainda porque você não gosta de assumir riscos - mas é o medo de assumir riscos que faz com que os empreendedores se preparem melhor enfrentem os riscos com cautela e planejamento.
Qual o significado disto tudo? Se você não sabe se tem pleno domínio dessas características, não saberá se precisa desenvolvê-las ou não. Se resolver enfatizar o que você já é bom, pode cair facilmente no lado do defeito. O resultado é que alguns empreendedores são teimosos porque são determinados demais, outros tentam ser amigos de todo mundo porque praticam demais a empatia, alguns não conseguem se relacionar com pessoas porque são autossuficientes demais, e há ainda os que não conseguem lidar com problemas do dia-a-dia, pois acreditam que devem olhar para o futuro sempre.
O que nos falta – a todos, e não só aos jovens - é o autoconhecimento: saber quem realmente somos. Quando você não conhece a si mesmo o suficiente, facilmente cai nas armadilhas dos estereótipos, assumindo para si aquilo que não é seu. Quando você não sabe quais são seus defeitos e virtudes, acaba interpretando mal suas necessidades de autodesenvolvimento e acaba por transformar suas virtudes em defeitos inadvertidamente. As lições podem ser ensinadas para todos, mas as pessoas são diferentes e não devem assumir que todas as lições são necessárias para todos. Apenas se apropriam das lições certas aqueles que tem plena consciência de que precisam desenvolver habilidades especificas.
Por isso que, se quer mesmo se tornar empreendedor ou líder, a primeira lição é: descubra quem você realmente é. O domínio de quem você é vai ajudá-lo a identificar que ferramentas precisa dominar, que conhecimentos precisa adquirir e que caraterísticas precisa desenvolver. O processo da descoberta interior exibe suas fraquezas e abre as avenidas do seu autodesenvolvimento, dando mais foco e mais eficácia às decisões sobre quais cursos fazer, quais experiências viver, em quem se espelhar e onde buscar as referências que precisa.
Existem vários caminhos para aprofundar a consciência sobre si mesmo. Você pode fazer terapia, Coaching, aconselhamento, pode conseguir um mentor, pode ler livros de auto-ajuda, pode fazer testes psicológicos, meditação e auto-reflexão. Não importa qual o caminho você escolha, já posso avisar que não é um caminho fácil. Se estiver fácil, é porque você não está penetrando fundo o bastante.
Navegar na superficialidade é conhecer apenas a camada maquiada de nós mesmos. A verdadeira jornada do autoconhecimento nos leva a uma confrontação com um ‘eu’ que pode até mesmo nos assustar. Se as práticas são certas, não desista, a dor da autodescoberta vale aqui também. A dor é maior quanto mais fortes forem nossas convicções. Por isso ela é necessária. Esteja pronto e aberto ao mais importante aprendizado de sua vida: aprender sobre si mesmo.
Por Marcos Hashimoto, PEGN

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